Segunda parte de uma revisão geral de coisas lançadas neste ano: da semana passada ou cinco meses atrás, não importa.
A saída pelo remix
O Ministry acabou de soltar mais um disco de remixes, intitulado “Last Dubber”, que descende do original “The Last Sucker”. São versões do que o Sr. Al Jourgensen (patrão da banda) interpreta como o que seria o dub jamaicano para o metal industrial do Ministry. O resultado disso soa como se fosse um mix do pesadelo apocalíptico arrastado do Godflesh com o dub industrial clautrofóbico do Scorn. A capa com a imagem de George W. Bush fumando um baseado é sugestiva, e se você embarcar nesta trip arriscada e um tanto quanto indigesta pode ter pesadelos com bombas caindo sobre a Jamaica…
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Já o Revolting Cocks (projeto paralelo-mor do Sr. Jourgensen) chamou um timaço de bacanas do cenário industrial para remexerem nas faixas do excepcional “Sex-O-Olimpico”, resultando no divertidíssimo “Sexx-O-Mixxx-O”. Os remixes de Chris Vrenna (NIN/Marylin Manson – “HookerBot3000”, em ritmo neo synthpop, genial!), Dave Oglivie (Skinny Puppy – “I’m Not Gay” numa vibe trance/space disco), Andy Laplegua (Combichrist – “Lewd Ferrigno” virou um EBM fodão) e Luck Van Acker (um dos fundadores do Revolting Cocks – “Touch Screen”, lembrando um mix de electro funk com o próprio RevCo antigo) são os melhores, mas o disco inteiro é muito bom, dando uma suprimida nas guitarras pesadonas originais e ressaltando o lado dance/disco que parecia ter sido perdido no som original do RevCo.
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Direto da tumba
O doom metal é um gênero musical tão atrelado ao som do Black Sabbath dos anos 70, que se composições tétricas como “Electric Funeral” e “Black Sabbath” não tivessem sido criadas, o mundo seria privado de bandas excelentes e sorumbáticas como os já veteranos do Candlemass – e de todo o heavy metal como o conhecemos hoje por extensão. “Death Magic Doom” é um dos melhores discos do ano fácil, contém uma das músicas mais sensacionais que ouvi recentemente (“The Bleeding Baroness”, um refrão poderoso que não ouvia igual há anos), (re)apresenta um vocalista novo que chegou fodendo tudo (a voz de Robert Lowe é um meio termo entre Dio e Layne Stanley) e é perfeito para quem tomou um soco no estômago com o retorno dos mestres Iommi, Dio, Butler e Appice através do monstruoso disco do Heaven and Hell (olha o Sabbath onipresente aí no doom metal!).
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Os mestres do metal gótico estão de volta com mais um disco consistente. “Faith Divides Us, Death United Us” permanece na onda mais arrastada (doom) e pesadaça que tem marcado a fase recente do Paradise Lost. Ainda fico com “Icon” e “Draconian Times” como clássicos insuperáveis desta banda, mas para quem vomitou sangue após a fase pop de “One Second” e “Host” (que acho do caralho), esta nova encarnação do quinteto é um alento àqueles que gostavam mesmo era da podreira de “Lost Paradise” e “Gothic”. O som não voltou a ser aquele doom metal com vocais podrões, mas faz o link com aquela época sendo bem pesado e mais moderno ao mesmo tempo.
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It’s only rock and roll
George Thorogood é um cara bacana, daqueles que tocam sua guitarra com fogo nos olhos e, sempre escudado de seus chapas dos Destroyers, continua gravando bons discos periodicamente. “Dirty Dozen”, lançado meses atrás, regrava com propriedade clássicos de gente como Muddy Waters, Bo Diddley, Chuck Berry, Howlin’ Wolf e Willie Dixon, e apresenta algumas composições novas bem legais. O som do Thorogood não muda nunca: é aquele blues rock rasgadão, movido a guitarras lotadas de feeling (o slide rola solto) e que reverencia não somente os bluesmen citados, mas também o rock primordial de Chuck Berry & cia. Ele já lançou discos melhores (o primeirão ainda é imbatível) ao longo de mais de 30 anos de carreira, mas ouvir rock and roll puro e sem maquiagens desnecessárias desta forma hoje em dia é raro, muito raro, mas muito bem vindo.
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Rezando (ops!) pela cartilha do melhor que o rockabilly, o psychobilly (sua vertente mais suja e moderna) e o Texas (sua terra natal) podem oferecer em termos sonoros e de boas histórias em suas letras, o Reverend Horton Heat libera mais um disco que promete tornar nossas vidas mais divertidas. Outrora dono de uma verdadeira missa pervertida movida a riffs de guitarra incendiários, bateria alucinada com dois bumbos comendo soltos e sempre escudado por seu fiel parceiro Jimbo (baixo acústico), o Reverendo desta vez maneirou no peso e investiu numa sonoridade de rockabilly e country/tex mex mais tradicional no recém lançado “Laughin’ & Cryin’”. O peso e a pegada estilo hot rod music que eles tinham ficaram perdidos de “Spend Night In A Box” (2000) pra trás, o que pode gerar uma certa decepção nos fãs mais antigos. Mas o disco é bom o suficiente até mesmo para dar uma zoada na galera do death metal (“Those Death Metal Guys” – mais pesada e próxima ao estilo clássico do grupo) sem perder o feeling inigualável que a banda possui.
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Falar de discos recentes de bandas consideradas “classic rock” é uma tarefa ingrata. Inevitavelmente seus clássicos lançados nos anos 60 e/ou 70 são considerados inigualáveis, mas também se tornam uma bola de ferro presa no calcanhar destes músicos, pois tudo o que eles tiveram produzido dos anos 80 pra cá sempre gerou comparações implacáveis com o passado. Por isso é difícil alguém que não seja um verdadeiro fanático pelo Deep Purple, por exemplo, se interessar num disco lançado pela banda em pleno 2009 se você pode enumerar dezenas de clássicos imortais do passado como prioridade em sua audição. Dito isso, como eu posso indicar um disco do Lynyrd Skynyrd lançado neste ano se a sua obra dos anos 70 é um verdadeiro cálice sagrado do que podemos entender o que é o rock and roll de qualidade e verdadeiras bíblias do southern rock? “God and Guns” (o título é massa!) reúne as migalhas que sobraram do Lynyrd original para produzirem um disco surpreendentemente bom! Se você souber separar a banda clássica de décadas passadas da atual, vai ouvir um southern rock moderno, bem próximo de bandas que revivem este gênero musical misturando com o stoner rock atualmente, como o sensacional Five Horse Johnson, que justamente tem no Lynyrd como uma de suas maiores influências. E o Lynyrd está bem pesadão para os seus padrões neste disco, vide músicas fodonas como “Still Unbroken”, “Simple Life”, “Little Thing Called You”, “Southern Ways”, “Skynyrd Nation”, “Floyd”, “Storm” e a antológica faixa-título. Ouça sem comparar com o passado glorioso da banda e se surpreendrá!
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